A origem e como UX/UI Designers vêem processos seletivos mais profundos
Quando o assunto é contratação, entende-se que existem duas partes em busca de um equilíbrio: Uma empresa buscando alguém para suprir uma necessidade, e um profissional qualificado para ela. Em vias práticas, mediante a oferta recebida por diversos candidatos, a empresa os avalia, escolhe o que se mostra com melhor fit nos aspectos mais relevantes, e então contrata. Bingo! Mas na realidade nem tudo são flores, conforme nosso artigo Contratantes X Contratados: Alinhando expectativas.
Como recrutadores, já fomos abordados por diversas empresas escaldadas por terem sido ludibriadas por candidatos “impostores” que foram muito bem no processo seletivo, mas quando finalmente começaram a trabalhar, mostraram que não estavam realmente qualificados. Em alguns casos o problema nem tanto foi a técnica, mas sim comportamental, de forma que a postura do profissional trouxe problemas à equipe já existente. Nesses casos, empresas amargam um enorme prejuízo de tempo, dinheiro e planejamento, tendo que recomeçar o processo seletivo do zero. Vendo esse problema acontecer com certa frequência, é fato que o formato original da seleção precisou de uma reanálise, já que apenas acreditar no discurso não era suficiente — era necessário comprovar. É aqui que o teste entra: A empresa conclui que é melhor investir na melhoria do processo de seleção do que na repetida (e custosa) tentativa e erro de contratação, adicionando uma prova prática. Geralmente, estes são os indicadores a serem avaliados na aplicação do teste:
Com isso em mente, listo abaixo alguns exemplos de situações que empresas implementam testes práticos em seus processos seletivos para UX/UI Designers:
Para vagas onde o candidato assumirá uma posição de liderança, é perfeitamente normal que o processo seletivo seja mais exigente e aprofundado pois tal pessoa lidará com pessoas que já são parte do time e estão condicionadas ao ambiente. O teste irá clarificar pontos como visão estratégica, velocidade de tomada de decisão, experiência prática em situações de conflito e limitações internas junto a stakeholders.
Há casos em que a vaga exige que o candidato tenha conhecimento e experiência muito específicas, como por exemplo um UX Writer de URA e ChatBots. O teste poderá mostrar que realmente o candidato estaria preparado para situações mais delicadas, como o uso de termos de ordem inclusiva, social e jurídica. Por mais que o UX Writer apresente cases concisos e variados em seu portfolio, cada empresa vê esses pontos de uma forma de acordo com sua cultura, posicionamento estratégico e público-alvo.
Em casos onde a vaga é muito planejada e envolve diversos avaliadores, empresas preferem contratar bem do que contratar rápido. Por isso, criam processos de avaliação que passam por muitas camadas, colhendo opiniões, recomendações e análises de vários departamentos em conjunto para obterem o perfil mais adequado.
A forma como candidatos vêem o processo seletivo de uma empresa reflete diretamente na qualidade e velocidade de suas contratações. Em alguns casos, os processos seletivos com testes chegam a ser tão extensos e cansativos, que acabam por afastar os melhores talentos ou perdê-los pelo caminho. Listo abaixo algumas situações que geram esse tipo de problema:
Naturalmente, preocupadas com o risco de contratar mal, empresas tendem a criar processos muito complexos e longos. Por exemplo, a existência de etapas psicológicas (média de 1 semana), entrevistas com pessoas de departamentos diferentes (média de mais 1 semana) e a própria aplicação do teste (média de 3 semanas entre briefing, tempo de produção, avaliação da liderança e feedback) chegam a estender esses processos para quase 2 meses. Com isso, como a busca por profissionais está muito aquecida, existe uma enorme chance de os candidatos serem abordados e possivelmente contratados por outras empresas durante esse período, por terem processos mais ágeis e mais atraentes.
Em empresas com menor maturidade em Design, certos desafios tendem a ser muito exagerados, sem sentido e até inviáveis de se executar. É impossível que o candidato tenha tempo hábil de conduzir um bom processo de UX/UI Design no produto inteiro da empresa em 1 semana de prazo, considerando que a própria equipe interna demorou meses para entregar. Logo, o teor do teste deve ser simples, como a solução de um problema específico ou a melhoria de uma feature já existente.
Exigir demais do nível de maturidade e experiência do candidato pode ser um problema pra encontrar a pessoa mais adequada. Idealmente, a empresa pode ser mais flexível com as propostas de valor que recebem de candidatos, sendo que na medida do possível, adequem sua necessidade às melhores ofertas para que a contratação aconteça mais rápido.
Esse ponto envolve a criação da vaga em si. Mediante o aquecimento do mercado, empresas têm de lidar com profissionais que certamente estão sendo abordados por outras empresas a todo momento, com propostas iguais ou melhores. Logo, é importante que a empresa esteja antenada na oferta de seus concorrentes, e mais do que isso, que invista tempo e qualidade na criação da vaga com descritivos melhor elaborados que esclareçam sua maturidade em design, o quão interessante e motivadora é cultura da empresa, o tamanho do desafio e suas expectativas, entre outros.
Conversando com muitos UX/UI Designers que já passaram por processos seletivos complexos, levantamos relatos de que empresas deram sinais claros de que o teste se tratava de uma estratégia interna: Ao se deparar com um problema sem solução, abrem uma oportunidade de vaga com a finalidade de captação de novas ideias. Profissionais contam que lidaram com uma dor real da empresa no teste, foram reprovados sem justificativa, e pouco tempo depois, a empresa lançou essa nova feature em seu produto sem ter oficialmente contratado ninguém. Situações como essa, sem dúvida, geram muito desconforto e desinteresse por parte dos candidatos.
Apesar de todos os pontos citados acima, existem ganhos a um UX/UI Designer que passa por um processo seletivo com testes práticos, a saber:
Quando um UX/UI Designer é contratado e rapidamente desligado de uma empresa, ele também amarga a perda de tempo em sua carreira. Ao participar de um teste, suas chances em solidificar a relação com a empresa aumentam bastante, pois esta terá a comprovação do seu potencial e estará com as expectativas alinhadas — e o profissional já terá uma ideia de como será seu trabalho no dia-a-dia.
Como os testes são aplicados por pessoas tecnicamente qualificadas para avaliar, o UX/UI Designer já terá a oportunidade de conhecer e interagir com a pessoa a quem irá lidar diretamente quando for contratado. Em alguns casos, mais de um avaliador participa do processo, o que também é muito interessante para o seu network. Como o mercado ainda não é tão grande, seu nome ganha atenção, e dependendo de seu desempenho, mesmo que seja vencido por outro candidato, permanece na mesa para próximas oportunidades.
Cada projeto, por menor que seja, sempre traz um aprendizado. Mesmo que o teste seja trabalhoso, o deadline apertado e exista o risco de fazê-lo e não ser contratado, o profissional terá a chance de participar de um novo desafio em que talvez ainda não tenha tido experiência.
Testes em processos seletivos são muito benéficos para a assertividade da contratação, desde que não sejam desmotivadores para os candidatos. Deve sempre haver clareza, transparência e fundamento a quem cria o teste, e o comprometimento, motivação e real interesse a quem o aceita.