Certo dia eu estava a caminho da escola de meus filhos. Enquanto conversávamos, percebi que mesmo ambos ainda sendo muito pequenos, já reclamavam de ter que ir pra escola. Um deles, na época com 7 anos, teve a ousadia de dizer que já sabia de toda a matéria, do ano inteiro (!). Como um pai que se preze, eu disse a ele que aprender é o que nos torna pessoas de valor, e que ele nunca pararia de aprender porque nunca saberia de tudo. Imediatamente ele fechou a cara, é claro, ao perceber que sua vida escolar estava apenas começando.
Como recrutadores especializados, parte presente em nossa rotina é avaliar profissionais de UX/UI Design. Nesse dia-a-dia, é evidente que encontramos padrões nas propostas de valor dos candidatos: A forma de se apresentar, o “esqueleto” dos projetos e até os jargões, em maioria, são similares. Mas uma coisa que quase nunca vemos é um profissional comentar sobre como aprende e como valoriza esse ponto. Encontramos portfólios com um detalhamento gigante do projeto, o que é muito bom, mas é dada uma evidência muito pequena (ou nenhuma) do que foi aprendido nesse projeto.
Encontramos nos currículos e portfólios o uso constante de jargões como “aprendo rápido”, “adoro aprender” e “estou em constante aprendizado”, o que de fato não é ruim e nem errado: Só é simplesmente muito vago. Entenda que qualquer pessoa em busca de oportunidades de trabalho, em qualquer área, pode afirmar isso — ou seja, em nada é um diferencial para o seu perfil.
Sabemos que entender do processo de UX e ter alguma experiência são questões importantes para uma primeira análise, cada uma com sua própria finalidade para mostrar sua capacidade. Mas vencida a etapa de avaliação, digamos que você foi contratado: Yey! Casa e pessoas novas, produto diferente, desafio maior. Mas espere: Existe um gigantesco risco de tudo isso ir por água abaixo, porque a empresa ainda sabe pouco sobre sua capacidade de aprender.
Em vias práticas, ao ingressar em uma empresa você tem uma enorme curva de aprendizado pela frente, que mesmo que tenha vasto conhecimento técnico e experiência, terá que passar. Ao chegar, nada se sabe sobre o produto, seus usuários e os problemas a serem resolvidos a eles; e além disso, menos ainda se sabe sobre a cultura da empresa, o time e a liderança. Logo, o contratante não está preocupado apenas com o que você pode fazer hoje, mas com o que você vai fazer depois que começar a trabalhar.
Para ser prático e eficaz em mostrar como você aprende, é necessário que ajuste o storytelling de como se apresenta e monta seus cases de portfolio, afinal essa dupla precisa funcionar bem e estar sempre em sinergia. Vamos a eles:
Sempre dizemos em nossos artigos, lives e vídeos que sua apresentação profissional deve ser um reflexo atual de você. Em adição, insistentemente dizemos que fazer uma auto-análise sincera deve ser uma prática frequente em sua carreira de UX/UI Designer, para que se lembre do que já passou, onde está agora e onde pretende chegar. Ao fazê-lo:
Para isso, pergunte-se como os seus aprendizados construíram e moldaram seu perfil profissional — Quais foram seus principais erros cometidos, o que absorveu dos ambientes em que esteve inserido, o que descobriu sobre produtos concorrentes, as práticas no seu processo de trabalho que não funcionaram, as suposições que as pesquisas revelaram estarem erradas, e principalmente: o que você não fará mais, depois de ver que não funciona.
Em suma, esclareça de forma concisa como você pretende partir de quem é hoje a se tornar quem a empresa realmente precisa que você seja. Ao se deparar com essas informações, qualquer avaliador irá entender claramente a proposta de valor de seu perfil profissional, reduzindo drasticamente o receio em investir na sua contratação.
A grande maioria dos UX/UI Designers, nos mais diferentes níveis de maturidade, estão condicionados a pensar no formato padrão: Basear os cases em indicadores como o desafio, produto, o processo, problema resolvido e os resultados gerados. Perfeito! Mas para que tais indicadores resultem numa decisão sobre você (e não somente sobre a qualidade do seu processo de UX/UI), converta-os para que mostrem o tamanho do seu aprendizado.
Se o avaliador conseguir vislumbrar sua curva de crescimento a cada projeto, estará explícito o real valor profissional: A sua capacidade e velocidade de aprender em diferentes contextos. Lembre-se que a empresa, ao apostar em você, contratou a sua pessoa, e não apenas suas habilidades.
Por mais que mostrar seus erros e aprendizados possa parecer uma fraqueza, é na verdade uma de suas maiores virtudes. Apresentar entusiasmo em aprender constantemente vai construir uma imagem a seu respeito que empresas certamente irão valorizar.